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sexta-feira, 8 de março de 2013

Filosofia no Ensino médio


Programa que discute o ensino de filosofia no ensino médio:

 "EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA Levantando algumas hipóteses do que poderia ser o ensino de filosofia para jovens, este primeiro programa leva o expectador a acompanhar uma reflexão no que poderíamos chamar de filosofia do ensino de filosofia. -- Para que ensinar Filosofia? -- Expectativas sobre o ensino de Filosofia -- Teor filosófico e criticidade -- A experiência do pensar -- O ensino de Filosofia como experiência filosófica -- O ensino de história da Filosofia." ( o vídeo encontra-se dividido em quatro partes)




Fonte texto e vídeohttp://www.youtube.com/watch?v=sg_xM1tpcYU

Filosofia?


O QUE É FILOSOFIA, PROFESSOR? E PARA QUE SERVE?
Prof. Dr. Delamar José Volpato Dutra [UFSC/CNPq]



                                                          1. Da definição de Filosofia
A Filosofia é um ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos tais como bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. No começo, na Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia. Assim, na Grécia, a Filosofia incorporava todo o saber. No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente. Isto pode ser verificado a partir de uma análise da assim considerada primeira proposição filosófica.
Se dermos crédito a Nietzsche, a primeira proposição filosófica foi aquela enunciada por Tales, a saber, que a água é o princípio de todas as coisas [Aristóteles. Metafísica, I, 3].
Cabe perguntar o que haveria de filosófico na proposição de Tales. Muitos ensaiaram uma resposta a esta questão. Hegel, por exemplo, afirma: "com ela a Filosofia começa, porque através dela chega à consciência de que o um é a essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si. Começa aqui um distanciar-se daquilo que é a nossa percepção sensível". Segundo Hegel, o filosófico aqui é o encontro do universal, a água, ou seja, um único como verdadeiro. Nietzsche, por sua vez, afirma:  "a filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matiz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisália [sic], está contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego".
O importante é a estrutura racional de tratamento das questões. Nietzsche analisa esse texto, não sem crítica, e remarca a violência tirânica como essa frase trata toda a empiria, mostrando que com essa frase se pode aprender como procedeu toda a filosofia, indo, sempre, para além da experiência.
A Filosofia representa, nessa perpectiva, a passagem do mito para o logos. No pensamento mítico, a natureza é possuída por forças anímicas. O homem, para dominar a natureza, apela a rituais apaziguadores. O homem, portanto, é uma vítima do processo, buscando dominar a natureza por um modo que não depende dele, já que esta é concebida como portadora de vontade. Por isso, essa passagem do mito à razão representa um passo emancipador, na medida em que libera o homem desse mundo mágico."De um sistema de explicações de tipo genético que faz homens e coisas nascerem biologicamente de deuses e forças divinas, como ocorre no mito, passa-se a buscar explicações nas próprias coisas, entre as quais passa a existir um laço de causalidade e constâncias de tipo geométrico [...] Na visão que os mitos fornecem da realidade [...] fenômenos naturais, astros, água, sol, terra, etc., são deuses cujos desígnios escapam aos homens; são, portanto, potências arbitrárias e até certo ponto inelutáveis".
A idéia de uma arqué, que tem sentido amplo em grego, indo desde princípio, origem, até destino, porta uma estrutura de pensamento que a diferencia do modo de pensar anterior, mítico. Com Nietzsche, pode-se concluir que o logos da metafísica ocidental visa desde o princípio à dominação do mundo e de si. Se atentarmos para a estrutura de pensamento presente no nascimento da Filosofia, podemos dizer que seu logos engendrou, muitos anos depois, o conhecimento científico. Assim, a estrutura presente na idéia de átomo é mesma que temos, na ciência atual, com idéia de partículas. Ou seja, a consideração de que há um elemento mínimo na origem de tudo. A tabela periódica também pode ser considerada uma sofisticação da idéia filosófica da combinatória dos quatro elementos: ar, terra, fogo, água, da qual tanto tratou a filosofia eleática.
Portanto, em seu início, a Filosofia pode ser considerada como uma espécie de saber geral, omniabrangente. Um tal saber, hoje, haja vista os desenvolvimentos da ciência, é impossível de ser atingido pelo filósofo.
Temos, portanto, até aqui:
i] a Filosofia como conhecimento geral;
ii] a Filosofia como conhecimento específico;



Ensino de Filosofia






O ENSINO DA FILOSOFIA: 
CONCEITOS E JUSTIFICATIVAS 
Pedro Braga Gomes



Quando lecionamos Filosofia no Ensino Médio, duas questões surgem, de modo praticamente 
infalível e incontornável, nas mentes e na fala dos alunos adolescentes. A primeira é: “O que é 
Filosofia?” O título de um dos escritos de Heidegger poderia traduzir bem o sentido desta 
pergunta. O que os alunos querem saber é: “O que é isto – a Filosofia?” - com ênfase no “isto”. 
Se usarmos a linguagem de alguns deles, poderíamos traduzir a questão por: “Que bagulho é 
este, Filosofia (ou “Fisolofia”)? 
 A segunda pergunta é: “Para que Filosofia?” Esta questão demanda e cobra respostas não 
apenas sobre a finalidade da Filosofia mas, principalmente, sobre sua serventia e sua utilidade. O 
adolescente quer saber antes de mais nada para que tem de estudar a disciplina – e a urgência, a 
impaciência e a insistência com que ele faz a pergunta tendem a se intensificar na medida mesma 
em que não recebe uma resposta imediata e que possa ser prontamente assimilada. Não
raramente, a segunda pergunta aparece logo após a primeira, quase que confundida com ela, sem 
dar ao professor o tempo e o fôlego necessários para respondê-las. 
 Essa atitude do aluno do Ensino Médio põe o professor de Filosofia diante de desafios e 
dilemas bastante concretos e árduos. Ele é tacitamente convocado para uma tarefa cuja 
consecução é, em última análise, impossível: a de conceituar e justificar toda a Filosofia e seu 
ensino em meia dúzia de palavras – palavras que o aluno quer compreender automaticamente, 
sem qualquer esforço de inteligência ou de reflexão. A compreensão do que seja a Filosofia, de 
sua finalidade, de sua serventia e utilidade, bem como do seu ensino e de seu estudo como 
disciplina escolar, demanda, ao contrário, uma boa dose de paciência, de perseverança, de 
reflexão, de humildade. 
 Uma vez que estas qualidades não se encontram pressupostas ou embutidas no comportamento 
discente, elas serão, talvez, obtidas como resultado do processo de ensino da Filosofia; mas 
justamente por conta disso, na trajetória desse trabalho, o professor vê-se como que obrigado a 
desculpar-se perante os adolescentes por estar tentando ensinar-lhes uma disciplina que exige 
deles uma atividade tão cansativa e que, como vários costumam lamentar, lhes dá dor de cabeça 
– a atividade de pensar.