O ENSINO DA FILOSOFIA:
CONCEITOS E JUSTIFICATIVAS
Pedro Braga Gomes
Quando lecionamos Filosofia no Ensino Médio, duas questões surgem, de modo praticamente
infalível e incontornável, nas mentes e na fala dos alunos adolescentes. A primeira é: “O que é
Filosofia?” O título de um dos escritos de Heidegger poderia traduzir bem o sentido desta
pergunta. O que os alunos querem saber é: “O que é isto – a Filosofia?” - com ênfase no “isto”.
Se usarmos a linguagem de alguns deles, poderíamos traduzir a questão por: “Que bagulho é
este, Filosofia (ou “Fisolofia”)?
A segunda pergunta é: “Para que Filosofia?” Esta questão demanda e cobra respostas não
apenas sobre a finalidade da Filosofia mas, principalmente, sobre sua serventia e sua utilidade. O
adolescente quer saber antes de mais nada para que tem de estudar a disciplina – e a urgência, a
impaciência e a insistência com que ele faz a pergunta tendem a se intensificar na medida mesma
em que não recebe uma resposta imediata e que possa ser prontamente assimilada. Não
raramente, a segunda pergunta aparece logo após a primeira, quase que confundida com ela, sem
dar ao professor o tempo e o fôlego necessários para respondê-las.
Essa atitude do aluno do Ensino Médio põe o professor de Filosofia diante de desafios e
dilemas bastante concretos e árduos. Ele é tacitamente convocado para uma tarefa cuja
consecução é, em última análise, impossível: a de conceituar e justificar toda a Filosofia e seu
ensino em meia dúzia de palavras – palavras que o aluno quer compreender automaticamente,
sem qualquer esforço de inteligência ou de reflexão. A compreensão do que seja a Filosofia, de
sua finalidade, de sua serventia e utilidade, bem como do seu ensino e de seu estudo como
disciplina escolar, demanda, ao contrário, uma boa dose de paciência, de perseverança, de
reflexão, de humildade.
Uma vez que estas qualidades não se encontram pressupostas ou embutidas no comportamento
discente, elas serão, talvez, obtidas como resultado do processo de ensino da Filosofia; mas
justamente por conta disso, na trajetória desse trabalho, o professor vê-se como que obrigado a
desculpar-se perante os adolescentes por estar tentando ensinar-lhes uma disciplina que exige
deles uma atividade tão cansativa e que, como vários costumam lamentar, lhes dá dor de cabeça
– a atividade de pensar.
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